9 de set. de 2009

Enquanto no final do século XIX, a humanidade já despontava seus anseios de justiça social, o Brasil ainda estava às voltas com a abolição da escravatura e a construção de uma república que garantisse o direito à propriedade, a manutenção de autarquias oligárquicas, em um modelo eugenista, que previa através de cálculos científicos a rápida extinção de pretos e pobres. Nesse sentido a pobreza era um ingrediente fundamental de aceleração desse processo. Coube então aos afro-descendentes e ex-escravizados a cota mais árdua do desprezo e abandono que o Estado Brasileiro pode infringir a um determinado grupo, facilmente detectado na sua cor da pele, no seu cabelo carapinha, no seu jeito de falar e até no formato e diâmetro de sua cabeça. Hoje, apesar do intenso debate sobre o assunto, nesse momento de reconfiguração da sociedade brasileira, ainda é importante falar sobre cotas. Aqueles que se posicionam contra as cotas, esquecem da amplitude que essa palavra abarca. Esquecem que Portugal nasceu de uma cota, fruto de um casamento arranjado para impedir o avanço da ocupação árabe no continente europeu, esquecem até que o Brasil nasceu de uma cota também: O Tratado de Tordesilhas. Depois do “descobrimento” essas terras foram “cotificadas” e distribuídas em capitanias hereditárias, notem senhores e senhoras a gravidade da palavra “hereditárias” nesse caso. Poderíamos ficar aqui escrevendo mais e mais linhas elencando outras tantas cotas raciais aplicadas pelo Estado Brasileiro aos diversos estrangeiros que aqui chegaram antes, durante e depois da escravidão, sem contar as cotas atribuídas a determinadas castas sociais no Brasil, que embora camufladas em direitos adquiridos, estão direcionadas à um grupo majoritariamente de brancos, que tiveram a sua riqueza construída às custas do mesmo Estado que permitiu a escravização de tão grande contingente de indivíduos, não obstante o fato de todas as abomináveis permissividades de violência e toda a sorte de intolerância para com estes. Sendo assim, para tratarmos da questão das cotas é preciso haver consciência para que mais INJUSTIÇAS não sejam cometidas! Aguardem! Continuamos na próxima edição.
Por: Prof. Denilson José
Professor, membro do Disque Racismo e membro colaborador da AJA.